Memórias e experiências de professoras alfabetizadoras: saberes e aprendizagens

Abstract

O campo de estudos sobre a formação de professores tem crescido substancialmente nos últimos 20 anos, o que pode ser constatado, dentre outros fatores, pelo considerável aumento das produções científicas sobre a temática, pela utilização de metodologias próprias para os estudos e pela melhor definição do seu objeto de estudos – o professor. Uma das principais tendências observadas a partir dos anos 2000 foi o crescente interesse dos pesquisadores em estudar a figura do professor, seus saberes, suas práticas, suas representações e suas opiniões. A presente pesquisa se inseriu nesse contexto, localizando no professor e na sua experiência um lócus para elucidar a principal questão deste estudo: como as professoras aprendem a alfabetizar? Buscou, portanto, explorar aspectos da formação e da prática docente de professoras alfabetizadoras, no intuito de compreender como ocorre essa aprendizagem, bem como quais saberes são mobilizados nesse contexto. Além dessa fonte, a pesquisa contou com um referencial teórico que abordou: os modelos e paradigmas da formação de professores, com autores como Saviani (2008), Diniz-Pereira e Soares (2019), Zeichner (2013), dentre outros, e as aprendizagens, os saberes e os conhecimentos desenvolvidos pelos professores no exercício profissional da docência, em que autores como Schulman (1986; 1997), Schön (2000), Tardif (1991), Mizukami (2004), Pimenta (2007), dentre outros, foram trazidos para as discussões. As outras vozes que se somaram a esta dissertação foram as de quatro professoras que atuam na educação infantil e no ensino fundamental. Com o intuito de recorrer às memórias e experiências dessas professoras acerca de seus saberes e conhecimentos, nos valemos do instrumental da entrevista narrativa, no sentido de refletir sobre quais os saberes da formação e da prática profissional fundamentam as suas práticas de alfabetização e/ou letramento e que fomentam a sua aprendizagem da docência. Em razão do contexto da pandemia do SARS-CoV-2, as entrevistas foram realizadas de forma on-line, por meio da plataforma Google Meet. Acreditamos que as memórias e experiências ligadas à formação e à constituição dos saberes que se articulam e emergem de sua prática docente foram fonte fundamental para refletir sobre como essas professoras aprendem a alfabetizar. A análise das entrevistas narrativas nos possibilitou delinear três saberes que são mobilizados por essas professoras: o saber teórico e prático da formação, o saber compartilhado entre pares e o saber da condição do aluno. Também nos possibilitou compreender que as professoras mobilizam diferentes espaços, conhecimentos, saberes e interações para constituir sua atuação docente, de modo que sua aprendizagem da docência não finda no momento da formação inicial, mas permeia o espaço da atuação docente e nele continua se desenvolvendo. Além disso, pudemos compreender que as práticas de alfabetização e letramento exercidas pelas professoras transpassam o período previsto para o ciclo de alfabetização dos alunos do ensino fundamental I, de forma que elas lançam mão dessas práticas mesmo na educação infantil e nos anos finais do ensino fundamental. Sendo assim, entendemos que para dar conta da sua atuação o professor não se vale de um único saber em suas práticas, mas de uma mescla de suas aprendizagens, que estão ligadas ao planejamento de suas atividades, às questões organizacionais do ambiente escolar, às relações engendradas com os pares, bem como a todo conhecimento teórico e também prático construídos no tempo da formação inicial. Portanto, os professores aprendem a alfabetizar à medida que adentram a profissão, se relacionam com seus pares e com os alunos e relacionam seus conhecimentos teóricos e práticos para elaboração e execução de suas atividades. Palavras-chave: Alfabetização e letramento. Formação de professores. Pesquisa narrativa.

The field of studies on teacher training has grown substantially in the last 20 years, which can be seen, among other factors, by the considerable increase in scientific production on the subject, by the use of specific methodologies for the studies, and the better definition of its object of study – the teacher. One of the main trends observed since the 2000s was the increasing interest of researchers in studying the figure of the teacher, their knowledge, their practices, their representations and their opinions. The present research was inserted in this context, locating in teachers and their experience a locus to elucidate the main question of this study: how do teachers learn to read and write? Therefore, it sought to explore aspects of teacher education and practice of literacy teachers to understand how this learning occursand which knowledge is mobilized in this context. In addition to this source, the research had a theoretical framework that addressed: the models and paradigms of teacher training, with authors such as Saviani (2008), Diniz-Pereira (2019), Zeichner (2013), among others, and the learning, the knowledge and the developed by teachers in the professional practice of teaching, in which authors such as Schulman (1986,1997), Schön (2000), Tardif (1991), Mizukami (2004), Pimenta (2007), among others, were brought to the discussions. The other voices added to this dissertation were those of four teachers who work in early childhood education and elementary school. To resort memories and experiences of these teachers about their knowledge and skill, we used the narrative interview as an instrument to reflect on the knowledge acquired in professional training and practice that underlie their literacy practices and encourage their learning in teaching. Due to the context of the SARS-CoV-2 pandemic, the interviews were conducted online through the Google Meet platform. We believe that the memories and experiences linked to the formation and constitution of knowledge that is articulated and emerged from their teaching practice were a fundamental source for us to reflect on how these teachers learn to teach. The analysis of the narrative interviews allowed us to outline three types of knowledge mobilized by these teachers: the theoretical-practical knowledge of training, the knowledge shared among peers, and the knowledge of the student's condition. It also made it possible for us to understand that teachers mobilize different spaces, knowledge, skills knowledge, and interactions to constitute their teaching activities so that their learning in teaching does not end withinitial training but permeates and continues to develop in the space of teaching activities. In addition, we were able to understand that the literacy practices carried out by the teachers go beyond the period foreseen in the literacy cycle of students in the first part of elementary school so that they make use of these practices even in early childhood education and in the final years of elementary school. Therefore, we understand that to handle their performance, the teacher does not rely on a single knowledge in their practices, but on a mixture of their learning, linked to the planning of their activities, to the organizational issues of the school environment, to the relationships engendered with peers, as well as all theoretical and practical knowledge built during initial training. In conclusion, teachers learn how to teach as they enter the profession, interact to their peers and students, and relate their theoretical and practical knowledge for the elaboration and execution of their activities. Keywords: Alphabetization and literacy. Teacher education. Narrative research.