Absurdo, trágico e morte: um olhar caleidoscópico em O estrangeiro, de Albert Camus, e em O quarto fechado, de Lya Luft – Trouxeste a chave?

Abstract

Este trabalho tem como objetivo analisar possíveis configurações das noções de absurdo, de trágico e de morte em O estrangeiro, do escritor franco-argelino Albert Camus, e em O quarto fechado, da autora brasileira Lya Luft, partindo do princípio de que os romances são herdeiros de uma tradição instaurada na Modernidade, a partir do século XIX, na qual o ser humano começa a experimentar uma fragmentação do eu, da subjetividade e da individualidade devido aos processos de industrialização cada vez mais acelerados e à exploração social e trabalhista. Procuramos demonstrar que os personagens, seres fragmentados e dilacerados, submetidos a experiências intimamente relacionadas a condições absurdas e trágicas, vivenciam diversas facetas desses elementos constitutivos a partir de um elemento comum: a consciência da inevitabilidade da morte. Dividido em quatro capítulos, o presente estudo busca situar os autores e os romances historicamente a fim de compreender como Albert Camus e Lya Luft seinserem em uma tradição de autores considerados sombrios e pessimistas, demonstrar algumasfacetas que o absurdo e o trágico podem apresentar, a depender dos contextos e normas sociais, literárias ou filosóficas às quais as noções estão submetidas, analisar os romances a partir do ponto de vista dos personagens, que experimentam frequentemente as condições absurdas e trágicas, e, além disso, precisam saber lidar com o fenômeno da morte em suas nuances físicase simbólicas. Percebemos que os personagens, de forma geral, procuram romper o ciclo viciosono qual se encontram, em uma luta constante entre Eros e Tânatos, vida e morte, objetivando encontrar soluções para a fragmentação do eu, para a condição absurda e trágica, para a morte e para uma vida plena e satisfatória. Palavras-chave: Absurdo. Trágico. Morte. Albert Camus. Lya Luft.

This work aims to analyze possible configurations of the notions of absurdity, tragedy and death in The Stranger, by the French-Algerian writer Albert Camus, and in The Closed Room, by the Brazilian author Lya Luft, assuming that novels are heirs to a tradition established in Modernity from the 19th century, in which the human being begins to experience a fragmentation of self, subjectivity and individuality due to increasingly accelerated industrialization processes and social and labor exploitation. Our aim is to demonstrate that the characters, fragmented and torn beings, are submitted to experiences closely related to absurd and tragic conditions, and they experience several facets of these constitutive elements from a common element: the awareness of the inevitability of death. Divided into four chapters, this study seeks to situate authors and novels historically in order to understand how Albert Camus and Lya Luft fit into a tradition of authors who are considered dark and pessimistic, demonstrate some facets that the absurd and the tragic can present, depending on the social, literary or philosophical contexts and norms to which the notions are submitted, analyze the novels from the point of view of the characters, who often experience the absurd and the tragic conditions, and furthermore need to know how to deal with the phenomenon of death in its physical and symbolic nuances. We realize that the characters, in a general way, seek to break the vicious cycle in which they find themselves, in a constant struggle between Eros and Thanatos, life and death, aiming to find solutions to the fragmentation of the self, to the absurd and tragic condition, to death and to a full and satisfying life. Keywords: Absurd. Tragic. Death. Albert Camus. Lya Luft.