Abordagem do sofrimento mental comum em programas de residência de medicina de família e comunidade de Minas Gerais: narrativas e demandas formativas

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Data

2023-04-17

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Universidade Federal de Viçosa

Resumo

Este estudo investigou o processo de ensino-aprendizagem e a abordagem do Sofrimento Mental Comum (SMC) em programas de residência em Medicina de Família e Comunidade (MFC) de Minas Gerais. O sofrimento psíquico se apresenta sob diversas formas na Atenção Primária à Saúde (APS). As apresentações menos graves são mais prevalentes e são frequentemente designadas na literatura como SMC. A prescrição de psicotrópicos é um método muito utilizado para o manejo do SMC na APS, apesar de estudos não apontarem melhora e demonstrarem que abordagens não farmacológicas são eficazes. Dada a relevância do assunto é fundamental que programas de residência médica em MFC fomentem o desenvolvimento de competências para a abordagem de SMC. O objetivo do estudo foi investigar o processo de ensino-aprendizagem e a abordagem do SMC em programas de residência de Medicina de Família e Comunidade de Minas Gerais a partir das narrativas de residentes e preceptores. Pesquisa qualitativa do tipo descritiva, conduzida a partir de entrevistas de aprofundamento realizadas com residentes e preceptores de três programas de residência em MFC do estado de Minas Gerais. A entrevista foi guiada por roteiros semiestruturados que continham uma situação clínica para residentes e uma situação de ensino para os preceptores. A análise dos dados foi realizada seguindo princípios de análise temática de Braun e Clarke. Metade dos entrevistados desconheciam o termo Sofrimento Mental Comum e seus sinônimos. Na abordagem do SMC, os residentes conheciam várias técnicas de intervenção, apesar de aplicarem apenas algumas em seus atendimentos. As técnicas mais aplicadas eram o Método Clínico Centrado na Pessoa (MCCP) e a técnica SIFE (acrônimo para as palavras: sentimentos, ideias, funcionalidade, expectativas). Os residentes relataram dificuldades em aplicar técnicas de intervenção psicossociais avançadas para SMC. Nos relatos dos preceptores o MCCP e o SIFE também foram as abordagens básicas mais citadas, e dois deles utilizava ainda técnicas de intervenção psicossociais avançadas. A maioria dos preceptores citou apenas intervenções individuais e centradas no médico, apenas dois deles comentaram sobre a importância de intervenções coletivas, não necessariamente realizadas por médicos. Ao relatarem como aprendem sobre SMC, residentes citaram o método autoinstrucional, aulas teóricas, oficinas práticas e preceptoria. Já os preceptores relataram cursos formais, matriciamento, o método autoinstrucional por meio de ferramentas acadêmicas e não acadêmicas, residência, mestrado e durante a graduação. A análise das entrevistas permitiu compreender que os entrevistados reconhecem que o SMC é uma demanda frequente e que deve ser abordada na APS pelo MFC a partir de intervenções psicossociais. Contudo, nota-se que, na prática, tanto residentes quanto preceptores, não têm abordado o tema da maneira como está recomendada na literatura, mas eles reconhecem essas limitações. Os entrevistados conhecem muitas intervenções psicossociais, mas só sabem aplicar algumas delas, fato que contribui para despertar emoções negativas, como angústia e frustração, além de aumentar o número de referenciamentos desnecessários para outros profissionais. Então, nota- se que, na prática clínica, preceptores e residentes encontram dificuldades nessa abordagem relacionadas ao papel do médico diante de sofrimentos de ampla e profunda determinação social. Descritores: Saúde Mental. Transtornos Mentais. Medicina de Família e Comunidade. Educação Médica. Residência Médica. Atenção Primária à Saúde. Intervenção Psicossocial.
This study investigated the teaching-learning process and the approach to Common Mental Disorder (CMD) in Family and Community Medicine (FCM) residency programs in Minas Gerais. Mental suffering manifests itself in various ways in Primary Health Care (PHC). Less severe manifestations are more frequent and are often referred to in the literature as CMS. The prescription of psychotropic drugs is a widely used method for managing CMD in PHC, although studies do not indicate improvement and evidence that non-pharmacological approaches are effective. Given the relevance of this issue, it is essential that medical residency programs in FCM stimulate the development of competencies for the approach of CMD. The aim of this study was to investigate the teaching-learning process and the approach to CMD in Family and Community Medicine residency programs in Minas Gerais from the perspective of residents and preceptors. Qualitative descriptive research was carried out, guided by semi- structured scripts that contained a clinical situation for residents and a teaching situation for preceptors. The data analysis was done following Braun and Clarke's thematic analysis principles. Half of the interviewees were unaware of the term Common Mental Suffering and its synonyms. In the approach to CMD, the residents knew several intervention techniques, although they only applied some of them in their attendances. The most used techniques were the Person-Centered Clinical Method (PCCM) and the SIFE technique (an acronym for the words: feelings, ideas, functionality, expectations). The residents reported difficulties in applying advanced psychosocial intervention techniques for CMD. In the preceptors' reports, the PCCM and the SIFE were also the most mentioned basic approaches, and two of them still used advanced psychosocial intervention techniques. Most of the preceptors only mentioned individual and doctor-centered interventions; only two of them commented on the importance of collective interventions, not necessarily carried out by doctors. When reporting how they learned about CMD, the residents mentioned the self-instructional method, theoretical classes, practical workshops, and preceptorship. The preceptors reported formal courses, matrixing, the self-instructional method through academic and non-academic tools, residency, master's degree, and during graduation. The analysis of the interviews allowed to understand that the interviewees recognize that CMD is a frequent demand and that it must be addressed in PHC by FCM from psychosocial interventions. However, it is noted that, in practice, both residents and preceptors do not approach the subject in the way recommended in the literature, but they recognize these limitations. The interviewees know many psychosocial interventions, but only know how to apply some of them, which contributes to arousing negative emotions such as anguish and frustration, in addition to increasing the number of unnecessary referrals to other professionals. It is observed that in clinical practice, preceptors and residents encounter difficulties in this approach related to the role of the physician in the face of suffering with broad and deep social determinants. Descriptors: Mental Health. Mental Disorders. Family Practice. Education, Medical. Internship and Residency. Primary Health Care. Psychosocial Intervention.

Descrição

Palavras-chave

Residentes (Medicina) - Minas Gerais, Doenças mentais, Saúde mental, Medicina da família, Serviços de saúde mental comunitária, Cuidados primários de saúde

Citação

CASTRO, Fábio Araujo Gomes de. Abordagem do sofrimento mental comum em programas de residência de medicina de família e comunidade de Minas Gerais: narrativas e demandas formativas. 2023. 104 f. Dissertação (Mestrado Profissional em Ciências da Saúde) - Universidade Federal de Viçosa, Viçosa. 2023.

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