Índices de qualidade do carboidrato e do lipídio, estadiamento da obesidade e fatores de risco cardiometabólico em pessoas assistidas na atenção especializada ambulatorial

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Data

2023-06-30

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Universidade Federal de Viçosa

Resumo

A obesidade é reconhecida como uma doença complexa que apresenta diversas comorbidades associadas como diabetes melittus tipo 2, hipertensão e dislipidemias. Embora a sua etiologia seja multifatorial, um importante fator de risco modificável dessa doença é a alimentação não saudável. A associação da quantidade dos carboidratos e dos lipídios com a obesidade é bem estabelecida, no entanto, a relação dos diferentes tipos de carboidratos e subtipos de lipídios com a ocorrência dessa doença ainda precisa ser melhor definida. Nesse sentido, o objetivo do presente estudo foi investigar a associação da qualidade do carboidrato e do lipídio com o estadiamento da obesidade e os fatores de risco cardiometabólico em indivíduos assistidos na atenção especializada ambulatorial. Nesse estudo transversal foram incluídos 859 indivíduos com risco cardiovascular (20 a 95 anos, sendo 64,4% idosos; 472 mulheres e 387 homens; 40% com obesidade) assistidos em um centro de atenção secundária à saúde (CAAE: 50015621.4.0000.5153/Parecer n° 5.164.152). A partir dos prontuários ativos foram obtidos os dados sociodemográficos, do estilo de vida, bioquímicos, antropométricos, clínicos e do consumo alimentar. O estadiamento da obesidade foi definido por obesidade grau I (IMC ≥ 30,0 a ≤ 34,9 kg/m2), obesidade grau II (IMC ≥ 35,0 a ≤ 39,9 kg/m2) e obesidade grau III (IMC ≥ 40,0 kg/m2). Os fatores de risco cardiometabólico investigados foram: perímetro da cintura; razão cintura/estatura; colesterol total e suas frações; triglicerídeos; razões CT/HDL, LDL/HDL e TG/HDL; glicemia de jejum; hemoglobina glicada; índice triglicerídeo-glicose (índice TyG); e pressão arterial. Os dados do consumo alimentar foram obtidos por meio de um único recordatório alimentar de 24 horas (R24h) registrados no software ERICA-REC24h® e os nutrientes estimados usando a Tabelas de Composição Nutricional dos Alimentos Consumidos no Brasil (IBGE, 2011). Foram calculados o índice de qualidade do carboidrato (IQC), a partir de 4 critérios, a saber, fibras totais (g/dia), índice glicêmico (IG), razão grãos integrais/grãos totais e razão carboidratos sólidos/carboidratos totais, e o índice de qualidade da gordura (IQG), por meio da razão (ácidos graxos monoinsaturados (AGMI) + ácidos graxos poli-insaturados (AGPI))/(ácidos graxos saturados (AGS) + ácidos graxos trans). As análises estatísticas foram conduzidas nos softwares SPSS versão 21 e STATA versão 14. Para avaliar as associações foram usadas a regressão logística multinomial e a regressão de Poisson com variância robusta, adotando-se o nível de significância de 5%. Como resultados, a melhor qualidade do carboidrato, determinada pelo IQC, IG total da alimentação e fibras totais, não se associou com menor chance de obesidade grau I, II e III (p>0,05). Por outro lado, a qualidade do lipídio, mensurada pelo IQG, se associou inversamente com a obesidade grau I e II (ORgrau I: 0,58; IC 95%: 0,36-0,94, ORgrau II: 0,47; IC 95%: 0,24-0,93). Em relação aos subtipos de lipídios, os AGS se associaram positivamente com a obesidade grau I (OR: 1,79; IC 95%: 1,11-2,88) e grau II (OR: 2,33; IC 95%: 1,17-4,66), enquanto, os AGPI reduziram a chance de obesidade grau I (OR: 0,60; IC 95%: 0,37-0,96). Ademais, a maior aderência ao IQC e ao IQG não se associaram com menor prevalência dos fatores de risco cardiometabólico (p>0,05). Em conclusão, os nossos resultados mostraram que a melhor qualidade do lipídio (maior ingestão de ácidos graxos insaturados) está associada a menor chance de obesidade em população com risco cardiovascular, enquanto a alta ingestão de AGS está positivamente associada com a sua ocorrência. Entretanto, não encontramos evidências suficientes para apoiar que a qualidade do carboidrato esteja associada com o estadiamento da obesidade na população do estudo. Por fim, a qualidade do carboidrato e do lipídio não se associou com o risco cardiometabólico nessa população. Assim, uma alimentação saudável pautada na escolha de lipídios de melhor qualidade deve ser incentivada o mais precocemente possível para a redução do desenvolvimento da obesidade, como foco da prevenção primária. Palavras-chave: Obesidade. Fatores de Risco Cardiometabólico. Consumo Alimentar. Gorduras da Alimentação. Carboidratos da Alimentação.
Obesity is recognized as a complex disease that presents several associated comorbidities such as type 2 diabetes mellitus, hypertension, and dyslipidemia. Although its etiology is multifactorial, an important modifiable risk factor for this disease is unhealthy diet. The association between the quantity of carbohydrates and lipids and obesity is well established, however, the relationship between different types of carbohydrates and lipid subtypes with the occurrence of this disease still needs to be better defined. In this sense, the objective of the present study was to investigate the association of carbohydrate and lipid quality with obesity staging and cardiometabolic risk factors in individuals assisted in specialized outpatient care. In this cross-sectional study, 859 individuals (20 to 95 years old, 64.4% of whom are elderly; 472 women and 387 men; 40% with obesity) assisted at a secondary health care center were included (CAAE: 50015621.4.0000.5153/Opinion No. 5.164.152). Sociodemographic, lifestyle, biochemical, anthropometric, clinical and food consumption data were obtained from the active medical records. Obesity staging was defined as obesity grade I (BMI ≥ 30.0 to ≤ 34.9 kg/m2), obesity grade II (BMI ≥ 35.0 to ≤ 39.9 kg/m2), and obesity grade III (BMI ≥ 40.0 kg/m2). The cardiometabolic risk factors investigated were waist circumference, waist-height ratio, total cholesterol and its fractions, triglycerides, TC/HDL ratio, LDL/HDL ratio, TG/HDL ratio, fasting glucose, glycated hemoglobin, triglyceride-glucose index (TyG index), and systolic and diastolic blood pressure. Food consumption data were obtained through a single 24-hour dietary recall (R24h) recorded in the ERICA-REC24h® software, and nutrients estimated using the Tables of Nutritional Composition of Food Consumed in Brazil (IBGE, 2011). Carbohydrate quality index (CQI) was calculated based on 4 criteria, such as, total fiber (g/day), glycemic index (GI), whole grain/total grain ratio and solid carbohydrate/total carbohydrate ratio, and fat quality index (FQI) was calculated using the ratio (monounsaturated fatty acids (MUFAs) + polyunsaturated fatty acids (PUFAs))/(saturated fatty acids (SFA) + trans fatty acids). Statistical analyzes were conducted using SPSS version 21 and STATA version 14 software. Multinomial logistic regression and Poisson regression with robust variance were used to assess associations, adopting a significance level of 5%. As a result, better carbohydrate quality, determined by CQI, total GI of diet, and total fiber, was not associated with a lower chance of grade I, II and III obesity (p>0.05). On the other hand, the quality of lipid, measured by FQI, was inversely associated with grade I and II obesity (ORgrade I: 0.58; 95% CI: 0.36-0.94, ORgrade II: 0.47; 95% CI: 0.24-0.93). Regarding lipid subtypes, SFA were positively associated with grade I (OR: 1.79; 95% CI: 1.11-2.88) and grade II obesity (OR: 2.33; 95% CI: 1.17-4.66), however, PUFAs reduced the odds of grade I obesity (OR: 0.60; 95% CI: 0.37-0.96). Furthermore, greater adherence to the CQI and FQI was not associated with a lower prevalence of cardiometabolic risk factors (p>0.05). In conclusion, our results showed that better lipid quality (higher intake of unsaturated fatty acids) is associated with a lower chance of obesity in a population at cardiovascular risk, while high SFA intake is positively associated with its occurrence. However, we did not find sufficient evidence to support that carbohydrate quality is associated with obesity staging in the study population. Finally, the quality of carbohydrate and lipid was not associated with cardiometabolic risk in this population. Therefore, a healthy diet based on the choice of better quality lipids should be encouraged as early as possible to reduce the development of obesity, as a focus of primary prevention. Keywords: Obesity. Cardiometabolic Risk Factors. Food Consumption. Food Fats. Food Carbohydrates.

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Palavras-chave

Obesidade, Fatores de risco cardiometabólico, Alimentos - Consumo, Gorduras na dieta, Carboidratos na nutrição humana

Citação

OLIVEIRA, Nathallia Maria Cotta e. Índices de qualidade do carboidrato e do lipídio, estadiamento da obesidade e fatores de risco cardiometabólico em pessoas assistidas na atenção especializada ambulatorial. 2023. 125 f. Dissertação (Mestrado em Ciência da Nutrição) - Universidade Federal de Viçosa, Viçosa. 2023.

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