Estado nutricional de iodo e fatores associados em gestantes brasileiras: estudo Multicêntrico de Deficiência de Iodo (EMDI-Brasil)

Abstract

O iodo é essencial para a síntese de hormônios tireoidianos, em que a deficiência pode provocar na gestação aborto espontâneo e hipotireoidismo e o excesso, disfunções tireoidianas. O objetivo desse trabalho foi avaliar o estado nutricional de iodo e os fatores associados em gestantes brasileiras. Esse projeto faz parte do Estudo Multicêntrico de Deficiência de Iodo (EMDI-Brasil). As revisões sistemáticas foram elaboradas segundo o Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-analyses (PRISMA) e registradas no International Prospective Register of Systematic Reviews (PROSPERO). O risco de viés foi avaliado pelas ferramentas do Intituto Joanna Briggs. As meta-análises foram realizadas no software R e Statistical Software (STATA). Nos artigos originais, foram avaliadas gestantes brasileiras maiores de 18 anos. Para a coleta das informações socioeconômicas, demográficas, ambientais e de saúde foi aplicado um questionário semiestruturado. Para caracterização do estado nutricional, foi determinada a Concentração de Iodo Urinário (CIU). A disponibilidade alimentar foi avaliada pelo teor de iodo em amostras de água, alimentos in natura, sal de consumo domiciliar e em temperos. Para estimativa do consumo, foi aplicado o recordatório de 24 horas. Na análise estatística, foi utilizado o teste Shapiro-Wilk para avaliar a normalidade das variáveis. Na análise descritiva, foram apresentadas as frequências absolutas e relativas e medidas de tendência central e de dispersão. Para verificar a associação entre as variáveis obstétricas e socioeconômicas com a CIU, foi utilizado o teste Qui-quadrado. E para avaliar os fatores associados ao estado nutricional de iodo, foi realizada a regressão logística multinomial hierarquizada. O nível de significância adotado foi de 5%. De acordo com as revisões sistemáticas, a prevalência, no mundo, de ingestão excessiva de iodo em 10.736 gestantes foi de 52%. As principais implicações para as gestantes foram hipotireoidismo e hipertireoidismo. Para o recém-nascido, macrossomia e disfunção tireoidiana. Com relação a suplementação, a ingestão de 200 μg/dia de iodo foi capaz de alterar a CIU durante a gravidez, por isso deve ser iniciada no período pré-concepcional. Nos artigos originais, foram avaliadas 2.376 gestantes, com CIU mediana de 186,6 µg/L. A prevalência de deficiência de iodo foi de 36,7%, acima da necessidade 28,7% e excesso 3,6%. A concentração mediana de iodo no sal ingerido foi de 26,6 mg/kg, nos temperos 1,1 mg/100g, na água 2,9 µg/L e nos alimentos in natura 19,4 µg/100g. A ingestão alimentar média de iodo foi de 160,2 µg. Além disso, observamos que houve maior chance de deficiência entre as gestantes não-brancas (OR = 1.83; IC95%:1.27 – 2.64) e menor chance entre as gestantes que não exerciam trabalho remunerado (OR = 0.71; IC95%:0.52 – 0.98). Por outro lado, gestantes que estavam no terceiro trimestre apresentaram menor chance de ter ingestão de iodo acima da necessidade (OR = 0.52; IC95%:0.31 – 0.88). Assim, os resultados desse estudo serão fundamentais para a construção de políticas públicas e para o direcionamento de estratégias efetivas para prevenção e controle dessas alterações que podem provocar consequências irreversíveis para a saúde materna-infantil. Palavras-Chave: Gravidez. Iodo. Estado Nutricional. Saúde Materna. Brasil.Iodine is essential for the synthesis of thyroid hormones and deficiency can cause miscarriage and hypothyroidism during pregnancy, while excess can cause thyroid dysfunction. The aim of this study was to assess iodine nutritional status and associated factors in Brazilian pregnant women. This project is part of the Multicenter Study of Iodine Deficiency (EMDI-Brazil). The systematic reviews were prepared according to the Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-analyses (PRISMA) and registered in the International Prospective Register of Systematic Reviews (PROSPERO). The risk of bias was assessed using the tools of the Joanna Briggs Institute. The meta-analyses were carried out using R and Statistical Software (STATA). The original articles assessed Brazilian pregnant women over the age of 18. A semi- structured questionnaire was used to collect socioeconomic, demographic, environmental and health information. To characterize nutritional status, Urinary Iodine Concentration (UIC) was determined. Food availability was assessed by the iodine content in samples of water, fresh food, household salt and seasonings. The 24-hour recall was used to estimate consumption. In the statistical analysis, the Shapiro-Wilk test was used to assess the normality of the variables. In the descriptive analysis, absolute and relative frequencies and measures of central tendency and dispersion were presented. The Chi-square test was used to verify the association between obstetric and socioeconomic variables and UIC. Hierarchical multinomial logistic regression was used to assess the factors associated with iodine nutritional status. The significance level adopted was 5%. According to the systematic reviews, the worldwide prevalence of excessive iodine intake in 10,736 pregnant women was 52%. The main implications for pregnant women were hypothyroidism and hyperthyroidism. For the newborn, macrosomia and thyroid dysfunction. With regard to supplementation, the intake of 200 μg/day of iodine was able to alter the concentration of urinary iodine during pregnancy, so it should be started in the preconception period. In the original articles, 2,376 pregnant women were assessed, with a median UIC of 186.6 µg/L. The prevalence of iodine deficiency was 36.7%, above the requirement 28.7% and excess 3.6%. The median concentration of iodine in the salt ingested was 26.6 mg/kg, in seasonings 1.1 mg/100g, in water 2.9 µg/L and in fresh food 19.4 µg/100g. The average iodine intake was 160.2 µg. In addition, we found that there was a higher chance of deficiency among non-white pregnant women (OR = 1.83; 95%CI: 1.27 - 2.64) and a lower chance among pregnant women who did not work (OR = 0.71; 95%CI: 0.52 - 0.98). On the other hand, pregnant women who were in their third trimester were less likely to have an iodine intake above their needs (OR = 0.52; 95%CI: 0.31 - 0.88). Thus, the results of this study will be fundamental for the construction of public policies and for targeting effective strategies for the prevention and control of these alterations, which can have irreversible consequences for maternal and child health. Keywords: Pregnancy. Iodine. Nutritional Status. Maternal Health. Brazil.