Economia Doméstica

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    Tradições culinárias, gênero e geração no turismo cultural de dois distritos de Ouro Preto - MG
    (Universidade Federal de Viçosa, 2021-07-20) Cardoso, Virgínia Arlinda da Silva; Farias, Rita de Cássia Pereira; http://lattes.cnpq.br/2820374050218723
    Na presente tese, analisamos alguns elementos da cultura ouro-pretana tendo como lente prioritária as tradições culinárias. Em meio aos momentos festivos que envolvem essas tradições, abordamos os fatores que influenciam a permanência, a ressignificação e, ou, o abandono das tradições culinárias dos distritos de São Bartolomeu e Santo Antônio do Salto - Ouro Preto – MG, ambos inseridos em um campo heterogêneo e contemporâneo de turismo cultural. Para tanto, discutimos sobre as relações de gênero e geração que se destacam como elementos capazes de impactar as tradições culinárias. Por meio de uma descrição densa, de inspiração etnográfica, analisamos esses eventos sob a perspectiva dos rituais que ajudam na compreensão das interações sociais, no intuito de apreender o contexto em que são proferidos os discursos dos organizadores/promotores dos festivais culinários e dos turistas acerca da vivência das tradições culinárias. Adotamos pressupostos teóricos da vertente culturalista, para a qual é dada ênfase ao estudo, realizando a descrição dos comportamentos humanos definidos a partir da cultura em que os sujeitos estão inseridos, que lhes permitem vivenciar seu meio ambiente e relacionar-se com seus semelhantes. Sobretudo, abordamos os termos circunscritos nas representações que os sujeitos realizam em seu cotidiano, cuja comida desempenha papel de destaque. Na culinária, os ritos, assim como as interações cotidianas, constituem importantes recursos para salvaguardar e promover a manutenção dos saberes e fazeres regionais. Como resultados, entendemos que as tradições culinárias são constantemente ressignificadas, fazendo sentido para os grupos que as reafirmam, ao mesmo tempo em que são manipuladas no bojo da reconstrução permanente do “tradicional e típico” mineiro. As mudanças provocadas pela atividade turística não afetam somente as tradições, se propagando por outras instâncias, como a relação estabelecida entre os autóctones e os visitantes, entre os realizadores dos festivais e, até mesmo, entre os membros das famílias, ao inserirem elementos novos à dinâmica familiar e grupal. As diferenças que abrangem a distribuição de tarefas no festival se reverberam no cotidiano dos dois grupos estudados, sendo as assimetrias mais nítidas em Santo Antônio do Salto, onde a formação do grupo dos organizadores/promotores do festival é totalmente feminina. A presença masculina se restringiu às atividades acessórias ao evento, as quais demandavam, mormente, força física, a exemplo da montagem do palco, da produção das barracas, da confecção dos fogões a lenha, e do transporte das comidas para o local de comercialização. Percebemos, também, uma divisão de tarefas pautada nas relações de gênero entre os membros da própria família. Em São Bartolomeu, as assimetrias e os padrões de comportamento foram estruturados de forma mais fluida, embora existam as marcas características dos lugares historicamente delegados a cada gênero. A dinâmica familiar e cotidiana incorpora elementos que não foram vistos na realidade de Santo Antônio do Salto, como práticas culinárias exercidas por homens no cotidiano, bem como a comercialização de bebidas exercida por mulheres. Essas manifestações, embora representem avanços quando pensamos na igualdade de gêneros, ainda são muito incipientes, dado o rico e variado contexto cultural presente na realidade ouro-pretana. A cidade está entre os 65 destinos turísticos mais importantes do país, e conta com consagrados eventos culturais, como a Mostra de Cinema de Ouro Preto (Cineop) e o Festival de Inverno, com shows musicais e teatrais. Assim, a divisão sexual do trabalho, nas duas realidades estudadas, ainda evidencia a separação e a hierarquização das atividades desenvolvidas por homens e mulheres. Quanto aos aspectos inerentes à transmissão geracional da tradição culinária, concluímos que existe uma interconexão entre a tradição e a modernidade. Se, por um lado, a população mais envelhecida e o contexto turístico em que ela é inserida buscam fortalecer as tradições, por outro, a industrialização, a urbanização e o êxodo rural, principalmente dos mais jovens, põem em risco a manutenção das culturas locais em detrimento da padronização alimentar. Desse modo, concluímos que as tradições culinárias são ressignificadas nos dois contextos de pesquisa, sendo a tradição e a modernidade conectadas e fundidas, afetando de formas diferenciadas cada um dos dois grupos pesquisados. Contudo, notamos, em ambos, a forte essência da cultura tradicional mineira de servir mesas fartas, ancorada na hospitalidade e na simplicidade dos sujeitos e de suas preparações. Palavras-chave: Tradição culinária. Turismo cultural. Gênero. Geração.