Educação e pandemia: entre crises e (trans)formações
Data
2023-02-01
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Editor
Pedro e João Editores
Resumo
Em que medida a pandemia de Covid-19 tem ressignificado o
nosso olhar para a educação? Esta é uma das perguntas
motivadoras deste livro que, no intento de refleti-la, traz ao longo
de suas páginas ideias pedagógicas que adensam as discussões
sobre o futuro da educação.
A proposta deste livro é discutir o fenômeno ocasionado pela
pandemia da COVID-19 em diferentes perspectivas. O objetivo
principal é fomentar discussões acadêmicas em torno da crise
provocada na educação pelo afastamento social. Nossa perspectiva
é que as crises também trazem com elas potencial para
transformações positivas.
Por mais cruel que seja, no campo da educação, a ruptura
gerada pela pandemia é uma emergente oportunidade que nos
permite experienciar inovações didáticas e um redirecionamento
da nossa prática pedagógica. Cremos, inclusive, que esse momento
foi e é um convite para que a espaços educacionais tragam novos
debates, novas perspectivas, novas narrativas e novos referenciais.
Assim, os capítulos que serão descritos oferecem ao leitor alguns
elementos para este processo reflexivo.
Abrimos o livro com o instigante capítulo de Marcos Masetto
e Cecília Gaeta. Com o título ‘A inovação das práticas e o
aprimoramento do fazer docente no enfrentamento de desafios
pedagógicos’, os autores discutem sobre a relação que se estabelece
entre inovar a prática docente e o aprimoramento do docente no
ensino superior. Analisam três experiências de professores que
passaram por um profundo e criativo processo de revisão de sua
prática para adaptarem seus cursos ao ensino remoto provocado
pela pandemia. Os autores trazem à tona que, situações
problemáticas emergenciais com exigências de respostas imediatas
por parte de instituições e professores, são capazes de criar
9soluções de enfrentamento com mudanças significativas nas
práticas pedagógicas e promoção de um rico processo de aprender
para professores, alunos e instituições, em processo de formação
continuada dos protagonistas.
No capítulo ‘Mapeamento sobre a pandemia e formação de
professores nas reuniões da ANPED Regional – 2020/2021’, Roberta
Costa e Daniele Campos Botelho realizam um levantamento,
analisam e discutem os trabalhos acadêmicos da área da educação,
relacionados ao contexto pedagógico pandêmico, publicados nos
anais das edições regionais da Associação Nacional de Pós-
Graduação e Pesquisa em Educação (ANPEd), entre os anos de
2020 e 2021, especificamente no grupo de trabalho nomeado
Formação de Professores. Dentre os 265 trabalhos publicados 10
publicações atenderam o critério de conter o termo “pandemia” no
título e as autoras discutem esse resultado.
Thiago Henrique Barnabé Corrêa e Attico Inacio Chassot no
capítulo ‘Educação em (tempos de) crise: que currículo precisamos
e queremos?’, constroem tessituras acerca do currículo, enredando
suas vivências como formadores de professores e promovendo
interlocuções com autores que discutem sobre o tema. Explicam a
urgência de pensar o currículo como um terreno de produção e
transformação, apropriando-se da perspectiva que o concebe como
uma unidade “viva” e interativa aos elementos sociais. A pergunta
que orienta essa explanação vai ao encontro da seguinte pergunta:
Que currículo precisamos (e queremos) para a formação de uma
sociedade mais justa, solidária e consciente?
‘Docência na pandemia: desafios, contradições e
possibilidades’ é o título do capítulo de Valter Machado Fonseca,
Martha Prata-Linhares e Carmen Lucia Ferreira Silva. Os autores
trazem um relato de experiência vivenciado em tempos de
pandemia, trazendo a luz narrativas e experiências de criação com
docentes e estudantes. No texto discutem que se por um lado
enfrentaram desafios impostos pelo isolamento social, por outro
lado, experimentaram novos desafios metodológicos, abrindo
10caminhos para outras formas de ensinar e de aprender integradas
com as tecnologias digitais.
O capítulo ‘Dividindo águas: pensando sobre grandes
pandemias da história’, de Gabriela Cristina B. Engler Marques e
Isadora Maria Oliveira Tristão, realiza uma breve análise histórica
de dois momentos de crise da história humana causados por
pandemias: a peste negra e a gripe espanhola traçando paralelos
com a Covid-19. Trata-se de um estudo de revisão bibliográfica
que, longe de esgotar o tema ou de elencar quais foram as crises
mais marcantes da história, busca, à luz do passado, perceber o
tempo presente como um divisor de águas na história da
humanidade. Na perspectiva das autoras, compreender as
transformações e as lições que os dois primeiros anos de pandemia
deixaram para o tempo presente constitui no ponto de partida para
se pensar novos tempos.
Regina Lima Andrade Gonçallo e Váldina Gonçalves da Costa
discutem as mudanças e adaptações criadas na perspectiva da
educação superior durante o período pandêmico. A alta
transmissibilidade do coronavírus fez do isolamento social um dos
meios mais eficazes para desacelerar o crescimento das taxas de
contaminação pelo vírus. Nesse contexto, trabalhadores tiveram
suas atividades profissionais impactadas e precisaram se ajustar a
uma nova forma de trabalhar o que levou diversos segmentos a
realizar suas atividades laborais remotamente. Para buscar
entender essa nova realidade, as autoras do capítulo ‘Além da sala
de aula: o trabalho de apoio aos programas e projetos na divisão de
apoio ao ensino da UFTM durante a pandemia’, analisam
mudanças nos procedimentos administrativos dos programas e
projetos da universidade durante o período pandêmico. Foram
analisados editais, relatórios, normativas, portarias e planilhas do
setor, especificamente nas ações ocorridas nos Projetos de Ensino,
Monitoria, Programa de Ação Tutorial e Estágios. As análises
trazem que mesmo diante dos desafios, houve continuidade nos
trâmites para andamento dos projetos de modo a atender a
comunidade acadêmica.
11O capítulo ‘Experiências coletivas de aprendizagem em meio
ao cenário da pandemia de COVID-19: desenvolvimento de
projetos e protagonismo estudantil’, de Mário Luiz da Costa
Assunção Júnior, analisa uma experiência de protagonismo
discente no desenvolvimento de projetos de ensino no contexto de
isolamento social vivenciado nos anos de 2020 e 2021. Apresenta
um relato de experiência do projeto IPES do Instituto Federal do
Triângulo Mineiro – Campus Uberlândia. O projeto é uma ação,
adaptada no formato de projeto de ensino, em que os estudantes
foram convidados a desenvolver, além das aulas, dinâmicas
voltadas às atividades de gestão, organização infraestrutural,
planejamento pedagógico e, ainda, resolução e superação de
conflitos. O projeto abrangeu aproximadamente 150 estudantes por
ano além de professores das diversas áreas do conhecimento. O
texto reflete sobre as contribuições da experiência enquanto local
de aprendizagem e gestão coletiva, apontando caminhos para a
dinâmica de projetos que fomentem o protagonismo discente,
principalmente em tempos de incertezas.
Em ‘Estruturas cognitivas na aprendizagem de conceitos
físicos associados ao Sars-cov-2’, Julian David Umbarila-Benavides,
Nidia Yaneth Torres-Merchán e Daniel Alejandro Valderram,
auxiliam-nos a pensar a pandemia como um espaço de discussão e
análise dos conceitos científicos envolvidos nesta realidade. Com
isso, este capítulo é um convite para pensarmos duas questões:
Quais são os conceitos físicos implícitos na divulgação científica
sobre o SARS-CoV-2? Que estruturas cognitivas sobre os conceitos
físicos são geradas por uma intervenção didática a partir da COVID
na formação de professores de Ciências Naturais?
No capítulo ‘Utilização das tecnologias digitais de informação
e comunicação para o ensino remoto’, Walteno Martins Parreira
Junior e Eliseu Ferreira Macedo trazem um estudo que aborda a
implementação do ensino remoto com as Tecnologias Digitais da
Informação e Comunicação. O referencial teórico se baseia em
autores que discutem práticas de ensino remoto e metodologias
ativas com a integração das tecnologias digitais. Os autores trazem
12as contribuições das tecnologias digitais para o ensino remoto, ao
mesmo tempo em que apontam para a necessidade de melhorar o
acesso às tecnologias digitais por parte dos alunos e formar
professores para uma prática educativa que vá ao encontro dos
desafios atuais.
Em ‘Desmistificando a inclusão das tecnologias digitais na
prática docente’, Marina Machado Caliento e Aline Roberta de
Souza Bonato analisam desafios encontrados pelos professores
para aliar as tecnologias digitais à educação. Para pensar o
momento pandêmico, por meio das narrativas de professores as
autoras trouxeram um cenário anterior à pandemia mostrando e
refletindo sobre as dificuldades de docentes na inclusão das
tecnologias digitais em suas práticas pedagógicas e seus
planejamentos didáticos.
Luciana Caixeta Barboza e Esdras Viggiano no capítulo
‘Reflexões de licenciandos em Química sobre ensino remoto
emergencial e pandemia’, descrevem uma investigação que teve
como objetivo caracterizar as impressões de Licenciandos em
Química sobre as experiências no ensino remoto emergencial
durante a Pandemia do Covid-19. A investigação tem abordagem
qualitativa, com criação dos dados por meio de um questionário
composto por perguntas abertas e fechadas, respondido por 29
sujeitos. Os resultados da pesquisa indicam que os estudantes se
sentiram apreensivos com relação ao vírus e consideram que a
qualidade de sua formação com o ensino remoto foi inferior e
impactará na sua formação como professores. Eles também
relataram desafios e dificuldades de adaptação ao ensino remoto,
bem como, explicitaram sentimentos contraditórios na vivência da
pandemia e do ensino remoto.
‘Paulo Freire em traduções audiovisuais: sobre como e por que
se apropriar da cultura digital’ é um capítulo escrito por Ketiuce
Ferreira Silva, por Martha Prata-Linhares e pelo Adalto Marques
Martins. Os autores descrevem uma experiência acerca do curso de
extensão intitulado Paulo Freire em traduções audiovisuais, cujo
objetivo geral foi refletir sobre a articulação entre as contribuições
13de Paulo Freire e a criação de produções audiovisuais em favor da
formação para a cidadania e da apropriação de práticas educativas
integradas às tecnologias digitais. Os resultados da experiência
apontaram para a relevância da obra de Paulo Freire para a
formação e atuação docente, o que inclui pensar as tecnologias
digitais enquanto recursos pedagógicos e objeto de estudo.
Por fim, encerramos com Luciana Ferreira dos Santos Vaz e
Handreane Lopes de Faria em ‘Mocinha ou Vilã: ressignificando a
tecnologia digital na pandemia com o self study’. Por meio de uma
narrativa autobiográfica, as autoras trazem para o leitor suas
vivências alternando momentos em que a tecnologia digital, nas
palavras das autoras, se torna “vilã” e outros, em que ela se mostra
como “mocinha”. Relatam seu sofrimento durante a pandemia, ao
se perceberem seres docentes descaracterizados, ou seja, sem
alunos. Retratam suas buscas por alternativas para suportar o
isolamento social e no caos pandêmico, experienciam as
transformações tecnológicas na educação e a aplicação dela na
prática profissional e na vida. Por fim, concluem que não é o uso
que faz a tecnologia ser “mocinha” ou “vilã”, mas a intenção de
quem a usa, pois a pessoa pensante ainda é o ser humano.
O livro é uma obra coletiva e fruto de investigações dos
autores envolvidos. Pretende assim, ampliar a discussão sobre os
estudos dos impactos da COVID-19 na interface com a educação
Descrição
DOI: 10.51795/9786526504642
Palavras-chave
Educação, Pandemia, Crises, Formações e transformações
Citação
PRATA-LINHARES, Martha Maria; CORRÊA, Thiago Henrique Barnabé (org.) Educação & pandemia: entre crises e (trans)formações. São Carlos, SP: Pedro & João Editores, 2023. 216 p.