Consumo alimentar segundo o grau de processamento e hipertensão arterial sistêmica: um estudo com servidores públicos com risco cardiovascular (procardio-ufv)

Abstract

A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é o principal fator de risco cardiovascular edentre os fatores envolvidos na sua etiologia destaca-se a alimentação inadequada. Evidências recentes têm demonstrado associação do consumo de alimentos com elevado grau de processamento (processados e ultraprocessados) com várias doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), mas estudos sobre a relação entre o consumo desses alimentos e a HAS são escassos. Assim, o objetivo deste estudo foi avaliar a associação entre oconsumo alimentar segundo o grau de processamento e a HAS em servidores públicos com risco cardiovascular. Trata-se de um estudo transversal, realizado com dados basais de 104 servidores públicos, com idade igual ou superior a 20 anos, de ambos sexos, atendidos no Programa de Atenção à Saúde Cardiovascular da Universidade Federal de Viçosa (PROCARDIO- UFV), no período de 2012 à 2019. O consumo alimentar foi avaliado por meio de um recordatόrio de 24h (R24h) e os alimentos foram classificados segundo o grau de processamento utilizando-se a classificação NOVA. A pressão arterial foi aferida três vezes com esfigmomanômetro mecânico de coluna de mercúrio e foi considerada a média das duas últimas aferições. Foram classificados com HAS aqueles com a pressão arterial sistólica ≥ 140 ou diastólica ≥ 90 mmHg ou os que relataram o uso de medicamentos anti-hipertensivos. Além disso, foram analisados dados sociodemográficos e de estilo de vida e marcadores de risco cardiometabólico. As análises estatísticas foram realizadas no software SPSS, versão 21.0, e Stata,versão 14.0. Modelos de regressão de Poisson, com variância robusta, foram usados para testar as associações. Foram apresentadas, como medidas de associação, as razões de prevalência(RP) brutas e ajustadas por potenciais fatores de confusão com seus respectivos intervalos de confiança de 95%. A prevalência de HAS na amostra foi de 77,9% (n=81) e a maior contribuição energética em percentual foi proveniente do grupo de alimentos in natura ou minimamente processados (60,0%), seguida dos ultraprocessados (18,3%), processados (12,2%) e ingredientes culinários processados (9,5%). Comparativamente aos sem HAS, os indivíduos com HAS apresentaram maior consumo de arroz, gordura animal, refeições prontas e outros alimentos ultraprocessados (refrigerantes, bebidas alcoólicas destiladas, produtos panificados, cereais matinais e outras bebidas) e menor consumo de leite e iogurte natural. Nos modelos ajustados, aqueles pertencentes ao 2o tercil de consumo de alimentos processados apresentaram prevalência 38% maior de HAS em comparação ao primeiro tercil (RP=1,38; IC95%=1,04-1,85). Em conclusão,neste estudo com servidores públicos com risco cardiovascular, o consumo de alimentos processados foi positivamente associado à prevalência de HAS. Esses resultados podem subsidiar a elaboração de intervenções nutricionais personalizadas voltadas para esse perfil de indivíduos com o objetivo de promover mudanças alimentares, garantir a manutenção da saúde e melhorar a qualidade de vida. Palavras-chave: Hipertensão. Alimentos Ultraprocessados. Classificação NOVA. Risco Cardiovascular. Saúde do Trabalhador.

Systemic arterial hypertension (SAH) is the main cardiovascular risk factor and, among the factors involved in its etiology, inadequate diet stands out. Recent evidence has shown an association between the consumption of highly processed foods (processed and ultra-processed) and several non-transmissible chronic diseases (NCDs), but studies on the relationship between the intake of these foods and hypertension are scarce. Thus, the aim of this study was to evaluate the association between food consumption according to the degree of processing and SAH in public servants with cardiovascular risk. This is a cross-sectional study, conducted with baseline data from 104 public servers aged 20 years or older, of both genders, attended at the Program for Cardiovascular Health Care at the Federal University of Viçosa (PROCARDIO-UFV), from 2012 to 2019. Food consumption was assessed by means of a 24-hour recordatόrio (R24h), and the foods were classified according to the degree of processing using the NOVA classification. Blood pressure was measured three times with a mechanical mercury column sphygmomanometer, and the average of the last two measurements was considered. Those with systolic blood pressure ≥ 140 or diastolic blood pressure ≥ 90 mmHg or who reported use of antihypertensive medications were classified as hypertensive. In addition, sociodemographic and lifestyle data and cardiometabolic risk markers were analyzed. Statistical analyses were performed using SPSS software, version 21.0, and Stata, version 14.0. Poisson regression models, with robust variance, were used to test the associations. The crude and adjusted prevalence ratios (PR) for potential confounding factors, with their respective 95% confidence intervals, were presented as measures of association. The prevalence of SAH in the sample was 77.9% (n=81), and the highest energy contribution in percentage came from the group of fresh or minimally processed foods (60.0%), followed by ultra-processed (18.3%), processed (12.2%) and processed culinary ingredients (9.5%). Compared to normotensive individuals, hypertensive subjects had higher caloric intake of rice, ready meals and animal fat, and lower intake of some cereals and legumes, ultraprocessed breads and cheeses, and artificial juices. In adjusted models, those in the 2nd tertile of processed food consumption had 38% higher prevalence of SAH compared to the first tertile (RP=1.38; 95%CI=1.04-1.85). In conclusion, in this study of public employees with cardiovascular risk, consumption of processed foods was positively associated with the prevalence of SAH. These results may subsidize the development of personalized nutritional interventions aimed at this profile of individuals, in order to promote dietary changes, ensure health maintenance and improve quality of life. Keywords: Hypertension. Ultraprocessed Foods. NOVA Classification. Cardiovascular Risk. Worker's Health.