Aspectos clínicos e nutricionais de pacientes em cuidados paliativos na fase final de vida acompanhados por comissão multidisciplinar em hospital de grande porte de Minas Gerais

Abstract

O objetivo do estudo foi caracterizar os sintomas gastrointestinais, a terapia nutricional e a prevalência da realização de procedimentos em pacientes recebendo cuidados paliativos, em fase final de vida em hospital geral de alta complexidade na Zona da Mata Mineira. Estudo quantitativo descritivo-exploratório, transversal, retrospectivo, realizado a partir de dados de prontuário eletrônico de pacientes acompanhados por Comissão de Cuidados Paliativos institucional. Foram incluídos pacientes maiores de 18 anos, com qualquer patologia, acompanhados pela Comissão de Cuidados Paliativos do hospital, nas últimas 72 horas de vida, entre fevereiro de 2022 e janeiro de 2023, que foram a óbito na internação. Foram excluídos gestantes, puérperas e pacientes cuja família não consentiu com o acompanhamento. Os dados foram analisados por estatística descritiva/inferencial (p<0,05 de significância). Aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa, sob o número 6.104.343. Resultados: foram incluídos 175 pacientes, sendo 105 mulheres (60%), com idade mediana de 85 anos. Maior incidência de portadores de doenças neurodegenerativas (30,3%) e câncer (24%). Observou-se maior prevalência no uso de terapia enteral (72%), e os sintomas gastrointestinais mais frequentes foram distensão abdominal (26,9%) e vômito (27,4%), não tendo sido encontrada associação com fatores clínicos ou demográficos analisados. Os procedimentos mais prevalentes foram coleta de material para exames bioquímicos (33,7%), raio-X (29,1%), instalação de cateter nasoenteral (12,0%); em 48,6% dos pacientes não foi realizado nenhum procedimento invasivo. Os pacientes acompanhados por mais tempo pela comissão de especialistas foram submetidos a menos procedimentos invasivos negativos na terminalidade (p<0,05). Conclusão: A maioria dos pacientes estava recebendo dieta enteral na fase final de vida, com interrupção da infusão, nessa fase, em quase 50% dos casos. Os sintomas gastrointestinais mais presentes foram vômito, distensão abdominal, diarreia e constipação. Os procedimentos invasivos negativos mais realizados nas últimas 72 horas de vida foram coleta de material para exames bioquímicos, raio-X e instalação de acesso venoso periférico. Destaca-se a realização de hipodermóclise em 10% dos pacientes e extubação paliativa em 3 pacientes, procedimentos benéficos, quando bem indicados. A atuação de equipe especializada em cuidados paliativos no âmbito hospitalar reduziu a realização de procedimentos invasivos negativos na fase final de vida, o que pode resultar na melhoria da qualidade de vida dos pacientes e otimização dos recursos hospitalares. Palavras-chave: Cuidados Paliativos na Terminalidade da Vida; Assistência Hospitalar; Equipe de Assistência Multidisciplinar; Terapia Nutricional.The aim of the study was to characterize gastrointestinal symptoms, nutritional therapy and the prevalence of procedures in patients receiving palliative care at the end of life in a highly complex general hospital in the Zona da Mata Mineira A descriptive-exploratory, cross-sectional, retrospective quantitative study conducted using electronic medical records of patients monitored by the institutional Palliative Care Committee. Patients over the age of 18, with any pathology, followed up by the hospital's Multidisciplinary Palliative Care Committee, in the last 72 hours of life, between February 2022 and January 2023, who died during hospitalization, were included. Pregnant women, puerperal women and patients whose families did not consent to the follow-up were excluded. The data was analyzed using descriptive/inferential statistics (p<0.05 significance level). The study was approved by the research ethics committee under number 6.104.343. Results: 175 patients were included, 105 of them women (60%), with a median age of 85 years. There was a higher incidence of patients with neurodegenerative diseases (30.3%) and cancer (24%). There was a higher prevalence of enteral therapy (72%), and the most frequent gastrointestinal symptoms were abdominal distension (26.9%) and vomiting (27.4%), which were not associated with the clinical or demographic factors analyzed. The most prevalent procedures were the collection of material for biochemical tests (33.7%), X-rays (29.1%) and the installation of a nasoenteral catheter (12.0%); no invasive procedures were carried out in 48.6% of patients. Patients monitored for longer by the specialist committee underwent fewer negative invasive procedures at the end of life (p<0.05). Conclusion: a profile of elderly patients with non-communicable chronic diseases, in most hospitalized in wards, was observed. The median follow-up time with the Palliative Care Team was only 5 days. Most patients were receiving enteral nutrition in the end-of-life phase, with discontinuation of the infusion in nearly 50% of cases at this stage. The most common gastrointestinal symptoms were vomiting, abdominal distension, diarrhea, and constipation. The most common negative invasive procedures performed in the last 72 hours of life were the collection of material for biochemical tests, X-rays and the installation of peripheral venous access. It's important to highlight that 10% of patients underwent hypodermoclysis, and palliative extubation occurred in 3 patients, both beneficial procedures when appropriately indicated. The work of a team specializing in palliative care in hospitals has reduced the number of negative invasive procedures carried out in the end of life, which can result in improved quality of life for patients and optimization of hospital resources. Keywords: Hospice Care; Hospital Care; Patient Care Team; Nutrition Therapy.