Adiposidade corporal e pressão arterial ambulatorial : resultados do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (ELSA-Brasil)

Abstract

Estudos sobre a associação entre obesidade e pressão arterial (PA) ambulatorial são escassos, e a maioria investigou essa relação utilizando somente o índice de massa corporal (IMC) como indicador de adiposidade. Assim, o objetivo deste estudo foi avaliar a relação da adiposidade corporal com a PA ambulatorial entre participantes do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (ELSA-Brasil). Inicialmente, foi realizada uma revisão sistemática, baseada nas recomendações do Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyzes (PRISMA), cuja busca foi realizada no Cochrane Library, Web of Science e Pubmed. Foram incluídos estudos originais que avaliaram a associação de pelo menos um indicador de adiposidade (exposição) com parâmetros derivados da MAPA (desfecho). Em seguida, um estudo transversal foi conduzido com subamostra do ELSA-Brasil, composta por 812 participantes do centro de investigação da Fiocruz-RJ que realizaram a MAPA concomitantemente à segunda onda de coleta de dados do estudo (2012-2014). Foram coletados dados sociodemográficos, comportamentais, antropométricos (peso, altura e perímetro da cintura (PC)), e gordura corporal por bioimpedância, e foram calculados o índice de massa corporal (IMC) e a relação cintura-estatura (RCE). A PA foi mensurada pela MAPA de 24 horas (h), e foram avaliadas a média e a variabilidade da PA sistólica (PAS) e diastólica (PAD) nas 24h, vigília e sono, o descenso noturno e a elevação matinal. Modelos de regressão gamma e logística, bruto e ajustados por fatores de confusão, foram empregados para investigar as associações entre os diferentes indicadores de adiposidade e a PA ambulatorial. Na revisão sistemática, foram incluídos 11 artigos originais. Foi observada associação significante do IMC com a média da PAS e PAD durante as 24h, na vigília e no sono, com a variabilidade pressórica, e com o descenso noturno, hipertensão do avental branco (HAB) e hipertensão mascarada (HM). Dentre os poucos estudos que consideraram outros indicadores além do IMC, verificou-se associações mais consistentes com o perímetro da cintura (PC) comparado ao IMC. Quanto ao artigo original, o excesso de peso (IMC), a obesidade abdominal (PC) e o risco aumentado (RCE) se associaram positivamente à média da PAS nas 24h, na vigília e no sono; para a média da PAD, associações foram observadas com o risco aumentado nos três períodos avaliados, e com a obesidade abdominal no período da vigília. O excesso de peso, a obesidade abdominal e o risco aumentado foram positivamente associados à variabilidade da PAS nas 24h e no sono, e à variabilidade da PAD em todos os períodos; o excesso de gordura corporal se associou positivamente apenas à variabilidade da PAD nas 24h e na vigília. Finalmente, o risco aumentado e o excesso de GC foram associados a maiores chances de descenso noturno acentuado, enquanto a obesidade abdominal e o risco aumentado se associaram com maiores chances de uma elevação matinal diastólica exacerbada. Em conclusão, indicadores de adiposidade foram associados à média e variabilidade da PA, descenso noturno e elevação matinal, com resultados mais consistentes para indicadores de adiposidade central comparados aos demais.

Palavras-chave: Obesidade. Hipertensão. Monitorização ambulatorial da pressão arterial. Antropometria. Revisão sistemática.Studies on the association between obesity and outpatient blood pressure (BP) are scarce, and most investigated this relationship using only the body mass index (BMI) as an indicator of adiposity. Thus, the aim of this study was to assess the relationship between body adiposity and outpatient BP among participants in the Longitudinal Study on Adult Health (ELSA-Brazil). Initially, a systematic review was carried out, based on the recommendations of the Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyzes (PRISMA), which were searched at the Cochrane Library, Web of Science and Pubmed. Original studies that evaluated the association of at least one adiposity indicator (exposure) with parameters derived from ABPM (outcome) were included. Then, a cross-sectional study was conducted with a subsample of ELSA-Brasil, composed of 812 participants from the Fiocruz-RJ research center who performed ABPM concurrently with the second wave of data collection in the study (2012- 2014). Sociodemographic, behavioral, anthropometric data (weight, height and waist circumference (WC)), and body fat by bioimpedance were collected, and the body mass index (BMI) and the waist-to-height ratio (WHR) were calculated. BP was measured by the 24- hour(h) ABMP, and the mean and variability of systolic (SBP) and diastolic (DBP) at 24h, wakefulness and sleep, nocturnal dipping and morning surge were evaluated. Gamma and logistic regression models, crude and adjusted for confounding factors, were used to investigate the associations between different adiposity indicators and outpatient BP. In the systematic review, 11 original articles were included. A significant association was observed between BMI and mean SBP and DBP during 24h, during waking and sleeping, with pressure variability, and with nocturnal dipping, white coat hypertension (WCH) and masked hypertension (MH). Among the few studies that considered indicators other than BMI, there were more consistent associations with waist circumference (WC) compared to BMI. As for the original article, overweight (BMI), abdominal obesity (AO) and increased risk (WHR) were positively associated with the mean SBP at 24h, during awake and during sleep; for the mean DBP, associations were observed with increased risk in the three periods evaluated, and with abdominal obesity in the waking period. Overweight, abdominal obesity and increased risk were positively associated with the variability of SBP at 24h and in sleep, and with the variability of DBP in all periods; the excess of body fat was positively associated only with the variability of the DBP in the 24h and in the wakefulness. Finally, increased risk and excess BF were associated with greater chances of marked nocturnal dipping, while abdominal obesity and increased risk were associated with greater chances of an exacerbated diastolic morning surge. In conclusion, adiposity indicators were associated with mean and variability of BP, nocturnal decline and morning elevation, with more consistent results for central adiposity indicators compared to the others.

Keywords: Obesity. Hypertension. Ambulatory blood pressure monitoring. Anthropometry. Systematic review.