Problematizando o livro didático de Biologia: corpo, gênero e sexualidade

Abstract

A presente pesquisa tem o objetivo de analisar os discursos e os saberes sobre corpo, gênero e sexualidade presentes em livros didáticos de Biologia indicados pelo PNLD 2017/2019, utilizados no ensino médio das escolas públicas da cidade de Viçosa-MG. Parte-se da ideia de que o livro didático é o porta-voz do saber oficial acumulado e responde pelo que a comunidade científica considera aceito até o momento. Diante disso, ele se torna um importante artefato tecnológico e, de certa forma, a maior compilação do conhecimento historicamente acumulado e direcionado, podendo ser veículo de mudanças e/ou permanências na vida em sociedade. Em relação as questões de gênero, os estudos feministas têm evidenciado que a feminilidade e a masculinidade não são estabelecidas propriamente pelas características biológicas, mas, sim, por tudo que se expõe ou representa a respeito delas. Parte-se da hipótese de que os livros didáticos de Biologia são importantes fontes de conhecimento sobre corpo, gênero e sexualidade, mas que, no entanto, tendem a reproduzir um saber que se baseia na concepção dualista/mecanicista. Este trabalho tem uma inserção nos estudos de gênero e estudos feministas, nos utilizando de autoras/es como Joan Scott; Donna Haraway; Linda Nicholson; Michel Foucault; Thomas Laqueur, entre outras/os. A pesquisa é de cunho qualitativo, utilizando como procedimento metodológico a análise de conteúdo de 24 livros didáticos, representados em oito coleções. A discussão da temática reforça a ideia de que ampliar o conceito de gênero significa ir além da percepção de que este seja apenas a consideração dos papéis socialmente atribuídos para mulheres e homens. Entendemos que ainda é uma quimera nos livros didáticos a discussão de gênero como uma condição situada pelas variadas tramas possíveis entre o biológico e social. As explicações sobre as diferenças entre homens e mulheres são atravessadas por discursos biológicos que naturalizam tais diferenças. Palavras-chave: Corpo. Gênero. Livro didático de Biologia. Sexualidade.

This research aims to analyze the speeches and knowledge about body, gender and sexuality present in Biology textbooks indicated by the PNLD 2017/2019, used in high schools in public schools in the city of Viçosa-MG. It starts with the idea that the textbook is the spokesman of accumulated official knowledge and accounts for what the scientific community considers accepted so far. In view of this, it becomes an important technological artifact and, in a way, the largest collection of historically accumulated and directed knowledge, which can be a vehicle for changes and / or permanences in society. Feminist studies have shown that femininity and masculinity are not properly established by biological characteristics, but by everything that is exposed or represented about them. It starts from the hypothesis that the textbooks of Biology are important sources of knowledge about body, gender and sexuality, but that, however, tend to reproduce knowledge that is based on the dualistic / mechanistic conception about the body. This work has an insertion in gender studies and feminist studies, using us from authors such as Joan Scott; Donna Haraway; Linda Nicholson; Michel Foucault; Thomas Laqueur, among others. The research is of a qualitative nature, using as methodological procedure the content analysis of 24 textbooks, represented in 8 collections. The discussion of the theme reinforces the idea that expanding the concept of gender means going beyond the perception that this is only the consideration of the socially assigned roles for women and men. We understand that gender discussion is still a chimera in textbooks as a condition situated by the various possible plots between the biological and social. The explanations of the differences between men and women are crossed by biological discourses that naturalize such differences. Keywords: Body. Gender. Biology textbook. Sexuality.