Ecologia
URI permanente para esta coleçãohttps://locus.ufv.br/handle/123456789/182
Navegar
1 resultados
Resultados da Pesquisa
Item Ecologia da onça-parda: interações de um predador de topo em um agroecossistema(Universidade Federal de Viçosa, 2017-11-30) Azevedo, Fernanda Cavalcanti de; Azevedo, Fernando Cesar Cascelli de; http://lattes.cnpq.br/3270718404243890O padrão de atividade, o hábito alimentar e a organização espacial da onça-parda (Puma concolor) foram estudados em um agro-ecossistema em rápido desenvolvimento no sudeste brasileiro, utilizando uma combinação entre os métodos de armadilhas fotográficas e rádio telemetria por Sistema de Posicionamento Global (GPS). O estudo foi conduzido entre os anos de 2009 e 2017, no Triângulo Mineiro, município de Araguari, em uma região de ecótono entre os Biomas Cerrado e Mata Atlântica. De forma geral as onças-pardas apresentaram padrão de atividade predominantemente noturno e alta sobreposição temporal com as presas mais consumidas. Especificamente, machos tiveram comportamento noturno mais pronunciado do que fêmeas, que mostraram-se catemerais (isto é, usam o dia e a noite nas mesmas proporções) e consumiram mais presas de hábitos diurnos, como coatis (Nasua nasua) e teiús (Salvator merianae). Animais domésticos (cães e gado bovino) e pessoas transitam nas mesmas trilhas que onças-pardas, entretanto, a sobreposição temporal entre humanos, animais domésticos e este felino não foram expressivos. Onças-pardas alimentaram-se de uma grande variedade de presas (n = 20 espécies) em Araguari. Porém, apresentaram comportamento especialista em relação à dieta, dependendo principalmente de presas silvestres, as quais foram mais consumidas tanto em termos de freqüência de ocorrência quanto biomassa ingerida. Capivaras (Hydrochaeris hydrochaeris) e tatus-peba (Euphractus sexcinctus) foram selecionados, enquanto animais domésticos foram evitados, apesar de sua alta disponibilidade na área de estudo. No que diz respeito à seleção de ambientes para caçar, onças-pardas mostraram preferência por ambientes de florestas e pasto sujo, provavelmente por oferecerem maior proteção em termos de cobertura vegetal e maiores oportunidades para emboscar presas. Onças-pardas caçaram a cada 3.54± 1.62 dias, sendo que fêmeas apresentaram tempo de manipulação das presas mais curto que machos, refletindo maior consumo de presas de pequeno porte por este sexo. Este resultado também destaca a capacidade de detecção de presas menores que 15 kg por meio do monitoramento de grandes carnívoros por meio da rádio telemetria GPS e a checagem freqüente de aglomerados de localizações. Onças-pardas apresentaram tamanho de área de vida média de 209.4 ± 46.5 km 2 . Como esperado, machos ocuparam áreas de vida mais extensas e percorreram maiores distâncias que fêmeas, corroborando um comportamento territorial mais pronunciado através de baixa sobreposição intrasexual. Onças-pardas também apresentaram forte associação com classes ambientais naturais (vegetação florestal), tanto em nível populacional quanto individual, destacando a importância dos fragmentos de vegetação remanescentes para a permanência deste predador de topo de cadeia em ambientes modificados pela ação humana. Os resultados aqui apresentados preenchem uma lacuna no conhecimento da ecologia da onça-parda em ambientes tropicais antropizados. Os dados demonstram que a permanência de um carnívoro de grande porte em paisagens modificadas está relacionada a: sua habilidade de ajustar seu padrão de atividade a diferentes fatores (incluindo antrópicos), e à oferta de uma base de presas silvestres e hábitats de vegetação natural. Além disso, colaboram para desmistificar o alto impacto negativo atribuído a onças-pardas em áreas onde convive com espécies domésticas e o homem.