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Tipo: Dissertação
Título: “Plantando com a memória”: os quintais como espaços de vida na poética de gente, tempo e lugar
"Planting with memory": The homegardens as spaces of life in the poetics of people, time and place
Autor(es): Silva, Yan Victor Leal da
Abstract: A experiência humana na trajetória da roça para a cidade guarda memórias relacionadas ao espaço e ao tempo vivido. Este trabalho buscou compreender como algumas dessas pessoas, seja de forma coletiva ou individual, territorializam memórias, afetos e conhecimentos em espaços do domínio da vida. Dentre os vários espaços do domínio da vida memorizados pelas pessoas enfatizarei os quintais. Esse lugar está povoado de campesinidades, simbolismos, cosmologias e significados. Como parte indissociável da casa, os quintais nas periferias urbanas representam micromundos onde se reproduzem memórias de momentos anteriores à migração. Sendo constantemente territorializados por plantas de uso alimentício e medicinal, classificadas por sistemas de conhecimentos e, algumas, utilizadas em rituais de curas e benzeções, os quintais materializam também a memória biocultural. Em uma abordagem etnográfica e microsocial, acompanhei quatro moradores que cultivam seus quintais em Nova Viçosa, Viçosa (MG). Dos quatro sujeitos entrevistados foram relatadas experiências de deslocamentos distintos a partir de seus lugares de origem até chegar ao bairro Nova Viçosa. Dois deles têm suas origens em Cajuri e em Porto Firme, na microrregião de Viçosa. Entrevistei, também, uma senhora benzedeira que nasceu em Taquaraçu, município próximo a Mariana (MG) e mais uma senhora das Posses, bairro vizinho de Nova Viçosa. Optei por trabalhar com quatro moradores para trazer uma diversidade nos significados e sentidos que são atribuídos aos quintais por essas pessoas. Para compreender os quintais como espaço de memória, utilizei instrumentos qualitativos de análise, sejam eles a observação participante, entrevistas abertas e diários de campo. Por meio desses instrumentos metodológicos registrei depoimentos e elaborei uma descrição em diário de campo das práticas realizadas nos quintais durante o trabalho de campo. Além disso, realizei um levantamento biocultural das espécies cultivadas, bem como os usos e cosmologias a elas associadas. As entrevistas abertas e vivências realizadas com os sujeitos de pesquisa indicaram que os quintais e a casa são lugares de sociabilidade, privilegiados no presente em uma relação de temporalidade com o passado. Os quintais são lembrados como lugares de experimentações e brincadeiras sendo também cultivados, na atualidade, como lugar de deleite. Para além de uma utilidade apenas material, as pessoas compreendem as plantas em seus quintais não como objetos, mas como atoras não-humanas que potencializam as relações. É através de trocas simbólicas realizadas com vizinhos que os quintais são espaços de uma diversidade biocultural. As vivências realizadas nos quatro quintais de Nova Viçosa trouxeram depoimentos e práticas que apontam a coexistência das práticas cotidianas dos quintais com o tempo disciplinado do trabalho determinado pelo relógio. Nessa coexistência de ritmos de vida distintos os quintais surgiram como espaços de reconstrução das trajetórias de vida dos sujeitos de pesquisa. Sob esta perspectiva, os quintais estão permeados de campesinidades e ritmos de tempos não industriais e não capitalistas, como também territorializam memórias que provocam o caminho para um mundo pós-capitalista, para as terras do bem-viver.
The human experience of migration from the countryside to the city keeps memories related to space and time lived before. This study intends to understand how some of these people, whether collectively or individually, territorialize memories, affection and knowledge in spaces of the domain of life. Among the various spaces of the domain of life that people memorize, we will emphasize the homegardens. This place is full of peasantries, symbolisms, cosmologies and meanings. As an inseparable part of the house, homegardens in urban peripheries represent microworlds where memories of moments before migration are reproduced. People constantly territorialize themselves in the space of their homegardens, growing plants of alimentary and medicinal use , classified by systems of knowledge that the people own and some of these plants are used in rituals of cures and blessings. So, it is possible to affirm that homegardens materialize also the biocultural memory. In an ethnographic and micro-social approach we followed four residents who grow their homegardens in Nova Viçosa, Viçosa (MG). These four residents interviewed had different experiences of displacements from their places of origin until arriving at the neighborhood of Nova Viçosa. Two of them came from Cajuri and Porto Firme in the micro-region of Viçosa. We also interviewed a lady who was born in Taquaraçu, a small city near Mariana (MG) and another lady who is from “Posses”, a place near Nova Viçosa. The decision to work with four residents was to bring a diversity in the meanings that are attributed to the homegardens by these people. To understand homegardens as a space of memory we used qualitative analysis tools, as participant observation, open interviews, and field journals. Through these methodological instruments, the testimonies were recorded and a field diary description was made describing practices performed during field insertion. In addition, a biocultural survey of the cultivated species was carried out, as well as the uses and cosmologies associated with them. The open interviews and diverse experiences with the research subjects indicated that the backyards and the house are places of sociability, privileged in the present in a relation of temporality with the past. The homegardens are remembered as places of experimentation and play, and are also cultivated today as a place of delight and affection. In addition to a merely material utility, people understand plants in their yards not as objects, but as non-human actors that potentialize relationships. It is through symbolic exchanges with neighbors that the homegardens are spaces of a biocultural diversity. The experiences carried out in the four homegardens of Nova Viçosa have brought us testimonies and practices that point to the coexistence of the daily practices in the homegardens with the disciplined time of work determined by the clock. In this coexistence of distinct rhythms of life, homegardens were pointed out to us as spaces for the reconstruction of the life trajectories of our research subjects. From our perspective, homegardens are permeated by a peasantry ethos, and non-industrial and non-capitalist time rhythms, as well as it territorialize memories that lead the way to a post-capitalist world, to the lands of well-living.
Palavras-chave: Migração rural-urbana
Memória coletiva
Estilo de vida
Jardins de ervas
CNPq: Extensão Rural
Editor: Universidade Federal de Viçosa
Titulação: Mestre em Extensão Rural
Citação: SILVA, Yan Victor Leal da. “Plantando com a memória”: os quintais como espaços de vida na poética de gente, tempo e lugar. 2018. 157 f. Dissertação (Mestrado em Extensão Rural) - Universidade Federal de Viçosa, Viçosa. 2018.
Tipo de Acesso: Acesso Aberto
URI: http://www.locus.ufv.br/handle/123456789/24304
Data do documento: 14-Dez-2018
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